Endometriose: o que é? Como se manifesta? Como pode a Fisioterapia Pélvica ajudar?
A endometriose é uma doença que afeta uma em cada 10 mulheres em idade fértil em todo o mundo, tendo assim uma alta prevalência na nossa sociedade. É uma doença inflamatória, crónica e estrogénio-dependente e, por isso, afeta mais as mulheres em idade reprodutiva (1,2, 3). A queixa mais comum na endometriose é a dor, sendo que 80% das mulheres apresentam a dor como principal sintoma (1,2). Esta pode ser expressa de diferentes maneiras, dependendo da localização e órgãos envolvidos (1,2). A endometriose não se cinge à zona pélvica (ligamentos, ovários, trompas, bexiga, reto) apesar de ser mais prevalente, e pode ser encontrada em outras estruturas e órgãos como os pulmões (2). Quando as placas de endometriose se situam dentro das paredes musculares do útero assume a designação de Adenominose. Mulheres com endometriose podem ser assintomáticas ou apresentar queixas (2), e estima-se ainda que afete 50% de mulheres com infertilidade (1,2).
Sinais e sintomas
Dor Menstrual forte ou incapacitante
Ovulação dolorosa
Hemorragias / sangramento abundante
Dor na relação sexual
Dor na evacuação
Dor ao urinar
Dor abdominal
Dor inguinal
Dor pélvica crónica
Fadiga
Dor lombar
Dor torácica
Infertilidade ou dificuldade em engravidar
Tratamento
Sendo uma doença crónica inflamatória, os tratamentos têm como objetivo aliviar a gravidade dos sintomas e melhorar a qualidade de vida das mulheres com endometriose. O tipo de tratamento e a abordagem a adotar deverá ter em conta cada caso, a avaliação previamente realizada, os objetivos da paciente e parecer médico (2,3).
-Terapia hormonal
– Cirurgia
– Medicina Integrativa
– Nutrição
– Fisioterapia Pélvica
– Psicologia
– Implementação de rotinas e hábitos de vida saudáveis como o exercício físico, alimentação etc…
Como pode a Fisioterapia Pélvica ajudar?
A intervenção da Fisioterapia Pélvica irá ajudar nos sintomas que advêm da endometriose, como a dor. Na endometriose, podem ser encontradas alterações na função urinária, ano retal e sexual em resposta a um ciclo de “dor-tensão-dor”. Este ciclo de dor-tensão-dor acontece quando há uma dor e, como “defesa” a essa dor, haverá uma resposta de maior contração, aumentando a tensão muscular nos músculos da região pélvica. Este ciclo acaba por originar mais dor tendo em conta a ligação da dor ao aumento de tensão muscular. Estes músculos vão agora “gravar” uma memória dessa dor que precisa de ser apagada. Nestes casos, a Fisioterapia vai ser importante para quebrar este ciclo de “dor-tensão-dor” que é conseguido através da libertação da tensão da musculatura, promovendo o seu relaxamento. É frequente em condições de dor pélvica crónica, como é o caso da endometriose, existir excesso de tensão muscular nos músculos pélvicos, nos músculos do pavimento pélvico, nos abdominais, nos paravertebrais e em outros músculos próximos da região pélvica (4,5,6). A Fisioterapia vai então ajudar no relaxamento das estruturas através da terapia manual, diminuindo a sua tensão e aumentando a mobilidade dos tecidos (5). Alterações da mobilidade pélvica, posturais e respiratórias também são comuns em resposta à dor sendo estas estruturas também parte integrante da intervenção na fisioterapia pélvica.
Concluindo
A Endometriose é uma doença ainda com causa desconhecida apesar de já ser alvo de algumas teorias mas sem uma causa consensual entre os especialistas (2,3). Sabe-se hoje em dia que tem um grande impacto na saúde mental e física da mulher afetando a sua vida em todas as vertentes: familiar, social e profissional (1,2). Apesar da sua grande prevalência, a endometriose ainda se encontra subdiagnosticada. A abordagem à mulher com sinais e sintomas de endometriose deverá ser feita com apoio de uma equipa multidisciplinar, e os profissionais de saúde de primeiro contacto deverão estar alerta para esta doença, para as suas manifestações, os seus sinais e sintomas para que seja possível encaminhar, ajudar e orientar as mulheres com endometriose. A dor não deve ser normalizada e é dever do profissional de saúde não desvalorizar e não relativizar.
A Fisioterapia Pélvica pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das mulheres com endometriose, inclusive no pré e pós cirurgia também.
Existe em Portugal a Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose (www.mulherendo.pt), onde poderá encontrar todas estas e outras informações relativas à endometriose.
Autor:
Dr.ª Raquel Jacinto – Fisioterapeuta especialista em saúde materno infantil e pelviperineologia
Referências Bibliográficas:
- (1) Culley, L., Law, C., Hudson, N., Denny, E., Mitchell, H., Baumgarten, M., & Raine-Fenning, N. (2013). The social and psychological impact of endometriosis on women’s lives: a critical narrative review. Human Reproduction Update, 19(6), 625-639. doi: 10.1093/humupd/dmt027.
- (2) Nácul, A., Spritzer, P., (2010) Current aspects on diagnosis and treatment of endometriosis. Rev Bras Ginecol Obstet, 32(6) , 298-307.
- (3) Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose. Consultado em Janeiro de 2021. www.mulherendo.pt
- (4) Baranowski, A.; Abrams, P.; Berger, R.; et al (2012). Classification of chronic pain: descriptions of chronic pain syndromes and definition of pain terms. International Association for the Study of Pain (IASP). [Online]. Available: www.iasp-(5) Engeler, A.P. Baranowski, J. Borovicka, P., et al. (2016). EAU Guidelines on Chronic Pelvic Pain.(6) Fitzgerald, CM., Neville, CE., Mallinson, T., et al., (2011). Pelvic floor muscle examination in female chronic pelvic pain. J. Reprod. Med. 56, 117-122.