[vc_row][vc_column][vc_column_text]A flexibilidade é um conceito associado à capacidade de mover uma articulação através da sua amplitude de movimento. Porém, o próprio termo começa por estar incorreto. De acordo com os dicionários de língua portuguesa, flexível é algo “que se dobra ou verga facilmente sem se quebrar”. Ora, flexibilidade não é uma capacidade inerente ao corpo humano. Uma articulação não é flexível, e muito menos os ossos. O que acontece, na verdade, é que a articulação funciona como um eixo pendular, onde permite a movimentação dos ossos sobre si. Sendo assim, o grau formado por esse aproximar/separar dos ossos é chamado de amplitude, neste caso, articular. Ou seja, amplitude articular (AA) deveria ser o conceito tido como correto.

É importante referir que é habitual incluir práticas de alongamento na prescrição do treino, com intuito de reduzir o excesso de resistência dos músculos antagonistas (geralmente ditos como os produtores de maior resistência à AA). Este modelo é uma prática comum na área do profissional da saúde e é fomentado pelas diretrizes da ACSM (entidade “superior” no que diz respeito a diretrizes do exercício físico). Mas será mesmo esta capacidade biomotora tão importante para evitar lesão? Qual a relação com o desempenho de força atlética?

O alongamento pode ser definido como o aumento da distância entre dois pontos de um determinado material e acontece em todo o exercício físico que aumente a distância entre origem e inserção do grupo muscular exigido (Freitas, 2010). Assim sendo, qualquer exercício de treino de força preenche os requisitos de inclusão nesta definição. Reparem, para cada encurtamento muscular, teremos o alongamento do lado oposto da articulação que se move. Ou seja, cada repetição será um alongamento muscular dos antagonistas desse movimento. Vamos usar um exemplo: um Leg Extension (extensão de pernas) exige força por parte dos músculos anteriores da coxa (quadríceps), mas, para além disso, vai obrigar à extensibilidade dos músculos posteriores da coxa (p.e.: semimembranoso). No entanto, este exercício não é considerado um alongamento. Porquê? Que características os exercícios precisam de ter para ser considerado alongamento? (Moscão; Vilaça-Alves, 2017).

Segundo Freitas (2010), vários tipos de alongamentos são referidos na literatura e os que mais se destacam são: Alongamentos Ativos Estáticos (AAE); Alongamentos Passivos Estáticos (APE) e Alongamentos Dinâmicos (AD). Entende-se por APE o aumento da amplitude de movimento (ADM) por meio de forças externas sem a participação do músculo agonista do movimento. Em contrapartida o AAE, é o aumento da ADM com a participação ativa do agonista do movimento. No caso do Alongamento Dinâmico também pode ser considerado do tipo ativo, mas realizado com múltiplas repetições e nada difere do Treino de Força. Outro ponto importante é que ADM ativa é voluntária e a ADM passiva é involuntária. Isso suscita uma outra reflexão: para quê aumentar ADM passiva se a maioria das lesões musculares ocorrem em ADM ativa? (Thacker et al., 2004)

Para terminar, os alongamentos estáticos sempre tiveram um papel “preponderante” nos treinos, sejam eles recreativos ou desportivos. No entanto, existe muita falta de evidência para comprovar que realmente acarretam benefícios. Para além disso, salientei aqui diversos erros em relação aos alongamentos que me leva cada vez mais a abolir essa prática. Não tem coerência do ponto de vista estrutural nem do ponto de vista fisiológico. O único tipo de alongamento que aparenta ter benefícios são os alongamentos dinâmicos (que, como expliquei atrás, não é mais do que treino de força). É importante que estes conceitos sejam transversais a todos os profissionais de saúde para evitar que existam perceções diferentes. O nosso corpo só tem movimento se existir força. Por isso, tudo o que for exercício físico é treino de força.

 

Autor:

José Gonçalves – Prescrição de Exercício e Treino Personalizado

 

Referências Bibliográficas:

Freitas, S. R. (2010) – Flexibilidade e Alongamento: Um método taxonómico

Junior, A. A. (2004) – Flexibilidade e Alongamento Saúde e Bem estar

Moscão, J. C.; Vilaça-Alves, J. (2017) – Paradigma Inflexível “O treino da flexibilidade: tradição, pesquisa e compreensão”

Thacker, S. B. (2004) – The impacto f Stretching on Sports Injury Risk: A systematic review of the Literature: Medicine & Science in Sports & Exercise

 

 

 [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]